segunda-feira, janeiro 15, 2007

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Em cada 25 de Dezembro

...usarei uns "All Star" azuis. Anseio pelas coisas simples, que não carecem de qualquer explicação e, no entanto, encerram toda a complexidade do mundo.



"All Star" - Cassia Eller

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Breve Teoria Geral do Inferno

Se há unanimidade teológica é a de que o Inferno é um sítio insalubre, quente e abafado, (embora ligeiramente mais fresco que Beja em Agosto) e com um enjoativo e omnipresente cheiro a enxofre.
Contrariamente ao mito, estas condições infernais, não derivam, porém, de qualquer abundante combustão de almas – material reconhecidamente incombustível – mas antes da deficiente ventilação do local (uma cave na Damaia) e da sua preocupante sobreocupação, variáveis que originam o por demais conhecido “efeito de estufa”.
Já as culpas pelo fedor sulfúrico recaem inteirinhas na falta de imaginação do pessoal da cozinha, gente aí geralmente madraça, que por facilitismo repete no menu, exageradamente, o clássico culinário transmontano feijão com grelos.
As lamentáveis condições físicas e estruturais do Inferno resultam da sua génese e, não menos importante, da ausência prolongada de investimento em obras de manutenção.
É geralmente aceite como verdade científica que coisa que nasce torta, tarde ou nunca se endireita. E nem mesmo o Inferno, apesar da sua mastodôntica importância, escapa a esse fado.
Ora, sucede que o Inferno surgiu como solução de recurso para um problema não acautelado:
Por puro devaneio de artista, a Criação veio acrescentada de Alma, matéria-prima ainda insuficientemente testada ao tempo, que, apesar de ter proporcionado um brilho inigualável à Obra, se veio a revelar um sarilho dos grandes devido à sua enorme resistência à degradação, que a torna virtualmente imprestável para reciclagem.
Tal como os isótopos radioactivos, as almas perduram muito tempo para além da sua vida útil. No caso vertente, uma verdadeira eternidade, conceito abstracto de difícil apreensão, mas que, para benefício de explanação, podemos calcular ter uma duração, em média, 30 minutos superior à do Jornal da TVI, baixando para apenas 2 minutos acima, se comparada com a duração da Floribela. Estamos a falar, por isso, de uma porrada de tempo.
Tal-qualmente sucede para o urânio enriquecido (que não sabemos como nos livrarmos dele), tem-se revelado insolúvel o problema logístico do destino a dar às Almas que sucessivamente vão sendo desmobilizadas por abate ao efectivo dos respectivos titulares. A política oficial tem sido a de “ir armazenando até ver”. Dessa política infeliz resultou a construção do Inferno.
Como todas as soluções de recurso, o Inferno foi planeado à pressa, em cima do joelho e para servir provisoriamente, com a promessa que rapidamente seria substituído por modernas e modulares instalações, com horizontes despejados e dotadas de suficiente folga para nunca mais se ter que se pensar no assunto. Contava-se até, que já estariam asseguradas, com largueza inédita, dotações e cabimentações orçamentais para tal desiderato.
Acresce a isto o facto da empreitada ter sido adjudicada a um mestre-de-obras português, que ganhou o concurso à custa de uma orçamentação irrealista e que, depois, como é dos usos da profissão, não teve outra alternativa senão ir poupando nos materiais e nas tubagens e motores de ar condicionado (os chineses faziam agora uns muito bons, dizia) que, como é público e notório, custam os olhas da cara. Particularmente os de melhor qualidade (os motores, não os olhos, que estes não têm preço).
Como sempre sucede, o provisório foi-se tornando definitivo e, o que é pior, acabou instrumentalizado ao serviço dos defensores do politicamente correcto, travestindo-se de castigo supremo ao serviço da ortodoxia reinante.
Nada de mais falacioso.
Na verdade, o Inferno é simplesmente uma inevitabilidade e como tal deve ser prosaicamente encarado.
Essa inevitabilidade não resulta de razões comportamentais ou de percursos reprováveis, mas porque, singelamente, não há alternativas, restando apenas lamentar que para tão prolongada estadia nos esteja reservada a completa ausência dos confortos mínimos da civilização ocidental. Os quais, diga-se, assim como assim, também andam cada vez mais arredios do nosso quotidiano. Quem nunca teve uma retrete entupida ou um treçolho? A verdade é que a esmagadora maioria, notoriamente os utentes habituais do Serviço Nacional de Saúde, nem notará a diferença.
A propaganda oficial tem procurado fazer passar a ideia de que é falsa a ausência de alternativas ao Inferno, apontando, em sustentação da sua tese a existência do Céu e do Purgatório, lugares marginalmente mais agradáveis, supostamente acessíveis através de um complicado sistema de créditos baseado no mérito individual, que, aliás, introduziria uma importante nota de Justiça retributiva - cá se fazem cá se pagam – que sempre cai bem.
Porém, só na aparência, tais realidades constituirão alternativas.
É inegável que objectivos meritórios terão estado subjacentes à criação do Céu, mormente no que toca à distinção de carreiras relevantes. Tais objectivos, porém, rapidamente foram subvertidos pelos primeiros ocupantes que, temendo que a massificação e a democratização do acesso lhes viesse a desvalorizar as propriedades, desde cedo aí instituíram uma espécie de condomínio fechado, com estatutos copiados do Conselho de Segurança da ONU: quem está, está e tem direito de veto; quem não está….estivesse. Está assim inviabilizada à nascença qualquer pretensão de entrar para o Céu, por muito mérito que tenha o candidato.
Já o Purgatório, não é, nem nunca foi, uma alternativa. Mais não é do que uma antecâmara do Inferno, separado deste por um simples reposteiro em damasco vermelho. Surgiu por razões de afluência em massa e por necessidades estatísticas, que impõem a catalogação e seriação prévia das almas que se apresentam em catadupa aos portões do Inferno. Técnica que, aliás, é largamente usada nas portas das discotecas da moda. Ou seja, há que gerir o ambiente, mas, mais hora menos hora, lá acabaremos por entrar. Até porque as instruções da gerência são claras: nem um cliente se pode perder.
Estamos por isso conversados no que respeita a alternativas sérias ao Inferno.
Muitos pensarão que dando-se o caso de ser o Inferno uma local sem reserva de admissão, existe uma probabilidade séria de ser um sítio mal frequentado, logo, a evitar a todo o custo.
Daí a extrema popularidade do conceito “Inferno Privativo”, abraçado por muitos como projecto individual de vida. Geralmente, os mais ilustrados aplicam-se esforçadamente na criação de um Inferno privativo, convencidos que daí resultarão os benefícios geralmente associados ao adjectivo “privativo” quando usado em expressões como “estacionamento privativo” ou “sala privativa”. Puro engano: não existe Inferno mais miserável que esse.
Dita a experiência que nada pior para o sossego do que passar a eternidade sozinho com a nossa própria consciência, que aliás foi criada precisamente para nos infernizar a vida.
Além do mais, dado que vão todos lá parar, a frequência não é melhor nem pior do que a de qualquer outro lugar. Simplesmente é a mesma, só que concentrada.
Na posse desta informação, mister é dela tirar alguma utilidade, que se pode resumir na resposta à questão seguinte:
- Demonstrada a inexistência de alternativas, o que fazer então para tornar menos desagradável a estadia?
Uma única coisa: evitar a todo o transe o ostracismo.
No Inferno não há muito o que fazer e, basicamente, conversa-se. É muito difícil matar o tempo e rapidamente se esgotam as novidades (afinal estamos a falar da eternidade). Daí que o povo local seja muito dado a grupinhos, cumplicidades e corporativismos; é muito “nós e os outros”.
Torna-se, por isso, fundamental para quem aí se apresenta de novo cultivar as qualidades de socialização e ser rapidamente aceite nos grupos instituídos. É na integração que reside o segredo do sucesso (bom, sucesso é maneira de falar).
Para isso, nada melhor do que levar da vida boas histórias para contar.
São extremamente valorizadas e de aceitação generalizada, como moeda de troca, no Inferno.
Um pouco como sucede com o tabaco nas prisões.

sábado, dezembro 02, 2006

Ora então, Boas Festas!



A Sereia

De maneiras que... ça suffit!


segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny (1923-2006)

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.



Morreu.

Banda sonora: "Vita Brevis" Rodrigo Leão

domingo, novembro 19, 2006

Oh Maria....

Uma Maria cansada da sua grafia.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Putana! Ha trovato un buco!

Le Havre, França, Setembro de 1989, Domingo à tarde - Um português, um espanhol, um italiano e uma irlandesa com cara de foca bébé, entram num cinema para verem "Dead Calm", thriller americano, dobrado em francês. Pura falta do que fazer.

Em comum, pouco mais têm do que uma convivência rápida de 15 dias gerada circunstancialmente por motivos vagamente semi-académicos.

Numa cena de elevada intensidade dramática, o herói luta pela vida, aprisionado no interior de um barco a afundar-se. Não tem hipótese nenhuma. Inexoravelmente a àgua sobe no compartimento e vai cobri-lo. Está quase ao nível do pescoço. É o fim prematuro. A audiência rebenta de ansiedade.

Putana! Ha trovato um buco! - Exclama incrédulo Diego, o italiano.

No último instante, o nosso herói encontra um tubinho que lhe permite continuar a respirar por mais uns minutinhos. O tempo suficiente para, recorrendo a artes só acessíveis a heróis, por milagre se livrar daquela enrascada. Eu teria morrido miseravelmente.

É impossivel fazer a contabilidade de todas as pessoas que entram e saem do nosso filme, entre personagens principais, secundárias e figurantes. A esmagadora maioria não deixa qualquer rasto. Um punhado delas fica congelada em fotografias ou produziu um sound byte que ficou por apagar.

Por onde anda essa gente? Alguém a conhece? Que é feito do Diego (2º da esquerda, agachado)? E da foca bébé?

Sugestão para a industriosa malta do Google: Deixem-se de merdinhas e passem às coisas verdadeiramente necessárias. Útil? Útil seria um link directo para cada uma das 6 biliões de pessoas que existem.

Condensada, a coisa é mais ou menos assim...

Reza mais ou menos assim: